A curiosa origem das palavras e expressões utilizadas no nosso dia a dia.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Bacanal

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Um bacanal é uma orgia sexual praticada com diversas pessoas. O nome tem origem num antigo ritual pagão em honra ao deus romano Baco, chamado de Dionísio pelos gregos.


Dionísio era filho de Zeus e da princesa Semele, foi o único deus olimpiano filho de um mortal. É deus dos ciclos vitais, das festas, do vinho e da insânia.


Os ritos religiosos dedicados a Dionísio eram conhecidos como os Mistérios Dionisíacos onde era usado o vinho para para induzir transes que erradicavam as inibições. As mulheres que participavam nestes rituais imitavam a conduta das Ménades. Executavam danças frenéticas, extáticas, muitas das vezes em volta da imagem de Dioniso.


Essas mulheres, consideradas sacerdotisas, dançavam semi-nuas, vestidas apenas com peles de leão. Durante esses rituais, em que no início apenas as mulheres eram admitidas e com o tempo os homens também puderam participar, o estado de êxtase absoluto conduzia frequentemente a derramamento de sangue, autoflagelação e sexo. Essas mulheres eram conhecidas como bacantes.


As bacantes eram mulheres de origem patrícia, escolhidas entre elas as de mais ilibada reputação, pois as práticas da orgia religiosa constituíam não uma imoralidade, mas um acto de comunhão com a divindade.


Inicialmente, no culto tradicional, existia uma divisão nas práticas sexuais orientadas pela divisão social vigente em Roma. Por exemplo: uma mulher da nobreza seguia um ritual bem definido, esfregava o seu corpo num escravo (geralmente alguém exótico para os padrões estéticos romanos) promovendo veementes carícias, praticava a felação com um membro da classe intermédia e por fim a cópula era restrita a alguém de igual posição social.


As reuniões eram inicialmente secretas durante três dias do ano, praticadas durante a  noite, num ambiente privado e em que os seus participantes tinham o dever de guardar segredo sobre as práticas a que se entregavam. O mais alto grau da perfeição báquica era considerar que nada era vedado pela moral.


Denuncias caluniosas, testamentos falsos, envenenamento, desaparecimento de homens e mulheres eram sempre o saldo das festas orgíacas. Em 186 a.c., o Senado Romano proíbe estas festas, as bacanais, por causarem desordens e escândalos. Estas festas eram as mais importantes na Roma antiga a par das saturnais.


Esta proibição implicava para quem a desrespeitasse a pena capital, mas apesar dessa providência, os devotos continuaram a celebrar os ritos de Baco em bacanais mais ou menos clandestinos. De qualquer forma, nunca deixou de existir a festa pública celebrada todos os anos a 16 de março, chamada Liberalia. Liber era também o nome latino de Baco.


Por fim, o desenvolvimento do Teatro Grego teve origem no culto prestado a Dioniso em Atenas. O festival principal, no qual as tetralogias em competição (três tragédias e uma sátira) eram executadas, era conhecido como Dionisía Urbana. Os actores das peças executadas em honra de Dioniso usam máscaras, símbolos da submersão da sua identidade na de um outro.




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sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Bolo-Rei

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Curioso bolo este que tem nome de rei e uma história conturbada.


A primeira casa onde foi vendido foi na Confeitaria Nacional, em Lisboa, que fica na rua Betesga, que liga o Rossio à Praça da Figueira, fundada em 1829. Terá sido Baltasar Rodrigues Castanheiro Júnior que trouxe a receita do Bolo-Rei de Paris.


Com a proclamação da República, em 1910, o bolo por ter a palavra rei, símbolo do poder supremo, tinha de desaparecer ou mudar de nome. Passou a chamar-se de bolo de Natal ou bolo de Ano Novo. Alguns propunham chama-lo de bolo Nacional, uma alusão ao nome da confeitaria onde foi inicialmente fabricado.


Os republicanos queriam que o bolo se chama-se bolo Presidente, e alguns até bolo Arriaga, primeiro presidente eleito da República Portuguesa.


O Bolo-Rei tem origem francesa e já existia na idade média, era o "Gâteau des Rois", semelhante ao nosso, no sul da França. Existe outro bolo também chamado de "Galette des Rois", no norte do país, e que não tem nada a ver com nosso, é feito de massa folhada por vezes recheoda de creme. 


Em 1711, em França, como a fome alastrava, o seu fabrico foi proibido para poder utilizar a farinha apenas para fabricar pão. Só em Paris é que essa proibição foi respeitada. Em 1789 com a revolução, o bolo teve o mesmo problema que em Portugal, queriam mudar o nome para "Galette de l'égalité" ("Bolo da Igualdade").


Durante as festas Saturninas, de fim de dezembro a princípio de janeiro, os romanos organizavam um banquete no qual procediam à eleição do Rei da festa utilizando uma fava. O eleite era rei durante um dia e podia realizar todos os seus desejos.


O Bolo-Rei existe em numerosos países, na Catalunha é chamado de "Tortell", no resto da Espanha de "Roscón", no Estados Unidos de "King Cake" e no México de "Rosca".



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segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Feira da Ladra

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Feira da Ladra no Campo de Santa Clara



A origem da Feira da Ladra remonta à fundação da nacionalidade e teve números locais, mas o que mais intriga é o seu nome, não se tendo chegado a uma conclusão definitiva.


No início, no século XII, chamava-se "Mercado Franco de Lisboa" e situava-se junto ao Castelo de São Jorge, na muralha sul. Tratava-se, nessa altura, de um mercado que se realizava à terça-feira. Em 1430 passou a efectuar-se no Rossio. Após o terramoto de 1755, dado que o Rossio foi sujeito a obras, passou, em 1809, para a Praça da Alegria.


Em 1823 fixa-se no Campo Sant'Ana e em 1882 é transferida para o Campo de Santa Clara, o seu local actual. Em 1903, além das terças-feiras é-lhe conferido mais um dia, ao sábado.


Com o passar dos tempos, esta feira foi perdendo as características que a assemelhavam aos mercados passando a concentrar-se sobretudo no negócio de artigos velhos e usados.


Um das hipóteses mais comum para explicar o nome "ladra" seria devida ao facto de os objectos vendidos terem sido roubados, no entanto, dado tratar-se inicialmente de um mercado, esta teoria não faz muito sentido.


Alguns investigadores, como Pinho Leal, atribuem a nome como derivado de "lada" que significaria no português antigo "margem do rio", na altura em que estava instalada às portas do mar, na Ribeira Velha no margem direita do Tejo.


Contudo, Alberto Pimentel refuta esta teoria. Segundo ele, a Feira da Ladra nunca esteve na margem do Tejo, sendo a feira que lá se realizava de bens de primeira necessidade, nada tendo a ver com a que se realizava no Rossio às Terças-Feiras.


O nome de "Feira da Ladra" pode ter tido origem nas feiras francesas existentes sobretudo em Paris, na idade média, que tinham por nome "Saint-Ladre", nome derivado de "Saint-Lazare".


Por fim, muitos investigadores da língua árabe pensam que a origem do nome pode dever-se ao facto da existência no local duma estátua de nossa Senhora que em árabe tem o nome de "Al Hadra" ("a virgem"), que com o tempo foi-se aportuguesando.



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