A curiosa origem das palavras e expressões utilizadas no nosso dia a dia.

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Cai o Carmo e a Trindade

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Esta expressão designa uma situação, de surpresa ou descalabro, actualmente é sobretudo usada, por ironia, quando se receiam consequências graves de causas sem importância.


Historicamente, o Carmo e a Trindade eram as duas áreas que constituíam a antiga freguesia lisboeta do Sacramento. Trata-se de uma das mais antigas e históricas freguesias  de Lisboa, onde se situavam os dois conventos dessas mesmas invocações. Um convento seria carmelita (o Carmo) e outro trinitáriio (a Trindade)


Esta expressão deve-se ao facto de durante o terramoto de 1 de novembro de 1755, dia de Todos-os-Santos, desabaram com grande estrondo. Quando os habitantes de Lisboa descobriram qual tinha sido a verdadeira causa de tal barulheira, disseram: "Caiu o Carmo e a Trindade". Isto é, desabaram os conventos do Carmo e da Trindade.


O Convento do Carmo, fundado nos finais do século XIV por D. Nuno Álvares Pereira sofreu danos profundos que até aos dias de hoje nos chegaram, nunca tendo sido reconstruído. Nele estão os túmulos góticos de D. Fernando Sanches e do rei D. Fernando I.

Convento do Carmo da Ordem dos Carmelitas




 O Convento da Trindade, foi edificado entre os séculos XIII e XIV com a protecção da Rainha Santa Isabel, após o terramoto e o incêndio subsequente, ficou praticamente destruído. Em 1838 dá-se início, no local, à construção do prédio actual destinado desde logo a cervejaria.



Situado sobre um antigo convento, o primeiro andar deste edifício acolhe agora a célebre Cervejaria Trindade, que ocupa o antigo refeitório do Convento.




Outra expressão remete para esse mesmo sismo de 1755: "Resvés Campo de Ourique", surgiu pelo facto do mar ter invadido Lisboa e chagado às imediações do Campo do Ourique.




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quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Doces conventuais

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Portugal é dos países do mundo com mais variedade de doces, essa razão deve-se a uma curiosa mistura de factores culturais e económicos.


Nos séculos 18 e 19, Portugal era dos principais produtores de ovos da Europa. A clara era utilizada para clarificar os vinhos, mas sobretudo para engomar algumas partes da roupa e em particular a das religiosas.


Nesse período, as populações à volta dos mosteiros e conventos eram obrigadas a pagar tributos pelo uso da terra. Esses impostos eram pagos pelo meio do trabalho e doação de produtos agrícolas, entre os quais cereais, frutas, legumes e ovos.


No século XVI, com a grande oferta de açúcar, vinda do Brasil, e com o excedente de gemas que eram desperdiçadas, surgiu nos conventos a ideia de aproveitar estes dois ingredientes para a confecção de doces.


Não é puro acaso que a maioria dos nomes de doces portugueses são inspirados na fé católica: barriga de freira ou papo-de-anjo. Alguns têm o nome dos lugares onde foram criados: pastéis de Tentúgal, pastéis de Santa Clara ou Ovos Moles de Aveiro.



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terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Pão-do-ló

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O pão-do-ló é um bolo fofo de farinha, açúcar e ovos, mas o que intriga é o porquê da palavra "ló".


Pensa-se que surgiu como doce conventual em Ovar e que a sua confecção é anterior ao século XVIII.


"" significa escumilha, isto é um tecido fino e transparente, mas também, e isto é que é interessante, significa o lado onde sopra o vento, ou seja o barlavento.


Pensa-se que de início, o pão-de-ló era apelidado de" bolo de castela" e que só depois foi nomeado de "ló".


Seja como for nos dois casos o nome evoca a sua característica de leveza. Quando os portugueses chegaram ao Japão em 1541, tendo sido os primeiros europeus a embarcarem nessa ilha, os nipônicos adoptaram esse bolo de "castela" e chamaram-no de Kasutera ou Kastera (correspondendo estas formas a dificuldades de dicção).


Em França este tipo de bolo é chamado de genovês ou "genoise" e pensa-se que a sua origem vem do Gênova, no norte da Itália.


Já na Itália, chama-se "Pan di spagna", ou seja pão de Espanha. No Reino Unido tem o nome de "sponge cake".




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segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Tempura

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A tempura é um prato clássico da culinária japonesa. Consiste em pedaços fritos de vegetais ou marisco envoltos em polme, fritos em óleo muito quente, durante apenas dois ou três minutos.
 

O que muita gente não sabe é que a sua origem é portuguesa.


Nos séculos 16 e 17, quando os portugueses aportaram no Japão, vindos da China ou Índia, os Jesuítas não comiam carne durante a Quaresma. Durante esse período, o da Quaresma, em latim "ad tempora quadragesimae", que tem a duração de 40 dias, entre a Quarta-feira de Cinzas e o domingos de Páscoa, a igreja católica recomendava abstinência de carne e penitência. Nas refeições, só peixes e frutos do mar, e vegetais.


Os fiéis submetiam-se aos mesmos sacrifícios nas primeiras quartas-feiras, seitas-feiras e sábados de cada estação do ano, as chamadas "têmporas".


Como abominavam o hábito de comer  peixes e frutos do mar crus, os portugueses fritavam os ingredientes. A população local achava estranho. Mas provava e achava bom. Julgava que "têmporas" fosse o nome do prato. Quando incorporou a receita , chamou-o de "tempura".


No Japão, a têmpura começou a ganhar popularidade ainda durante o período Edo (1600-1867), quando passou a ser oferecida nas ruas e na região de Tokyo. Em pouco tempo a têmpura conquistou todo o arquipélago.



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Vila Franca de Xira

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Esta pequena vila era apelidada de Xira ou Cira que significa pasto, mata virgem e inculta.


Em 1212 foi-lhe atribuído foral à terra que passou a chamar-se de Vila Franca. Franca significa livre.


Uma vila franca é uma vila composta por burgueses que se libertaram do regime feudal, permitindo assim a isenção de certas obrigações, nomeadamente fiscais, através de um diploma habitualmente concedido pelo rei. A população ficava directa e exclusivamente sob o domínio e jurisdição da Coroa, excluindo o senhor feudal da hierarquia do poder.


Esses diplomas, os forais, foram concedidos em Portugal entre o século XII e o século XVI.


Numerosas vilas francesas, sobretudo no sul, têm no seu nome o topônomo "Villefranche" (Vila franca). No norte da França tomam o nome de "Francheville" ou "Franqueville".


Em Espanha e na Itália também encontramos algumas vilas com o nome de "Villafranca", e na Alemanha com o nome de "Freiburg".


Vila Franca de Xira foi elevada a cidade em 1984


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domingo, 25 de dezembro de 2011

Peru

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O Peru, o animal, tem o curioso nome de um país e o seu nome varia consideravelmente de língua para língua. 


Pois bem, o peru selvagem é nativo das florestas da América do Norte, pensa-se que a sua domesticação aconteceu na actual região do México. Neste país, é chamado de "guajolote", palavra de origem azteca, cuja língua era o "nahuatl" (que quer dizer língua suave e doce). Nessa língua o peru era chamado de "Huey xólotl" que quer dizer "grande monstro".


Foram os espanhóis que trouxeram o peru para a Europa, que chamaram de "pavo", ou seja "pavão", este último é chamado de "pavo real". Ora, como para nós, portugueses, tudo o que vinha da América espanhola vinha do Peru, assim ficou conhecida esta ave entre nós, quando ela ainda nem existia no início da colonização nesse país.


Em França, o peru tem o nome de "dinde", uma contracção da "coq d'Inde" (galo da Índia) ou "poule d'Inde" (galinha da Índia). A confusão advém de que a América era conhecida como a Índia ocidental, por oposição à Índia oriental.


Introduzida pelos mercadores do Mediterrâneo Oriental no actual Reino Unido, os ingleses chamaram ao peru de "turkey", dado que para eles tudo o que vinha do oriente era turco.
Na Turquia é chamado de "hindi".
Essa mesma confusão fez com que os alemãs chamassem o peru de "calecutisher hahn", ou seja de "galo de Calcutá".
Em Israel o peru é chamado de "tarnegol hodu", ou seja de "galo da Índia".



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